quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Jovens Negros continuam afastados das faculdades - Por Wellerson Cassimiro



Baixo interesse no curso superior estimula procura por cursos técnicos


O baixo número de alunos afro-descendentes nos cursos superiores é constatado, em relação ao total da população negra, apesar de ter ocorrido um aumento no número de faculdades. Dados revelados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2001, 48% da população brasileira era formada por negros e pardos. Contudo, apenas 2% deste total freqüentam as salas de aula dos cursos superiores. Juiz de Fora também vivência essa realidade.
Edna Alves, 34 anos, moradora do bairro Jardim Natal, Zona Norte de Juiz de Fora, concluiu o ensino médio sem o objetivo de ingressar em uma faculdade, optando assim, pelo curso técnico. O ponto de vista apresentado por Edna é de que os jovens negros não querem se profissionalizar. Eles concluem o ensino médio ingressando no mercado de trabalho somente com este diploma”. Desse argumento compartilha, também, Antenor de Andrade, 36, morador do mesmo logradouro. Para ele, os jovens negros têm como objetivo os cursos técnicos. Ainda comentou que estes estão acomodados à espera de auxílio do Governo para poderem estudar.
Dayana de Souza, 23, estudante, moradora do bairro Santa Lúzia, Zona Sul de Juiz de Fora, freqüenta um curso pré-universitário e almeja o curso superior em Veterinária. Ela lamenta o baixo interesse dos jovens negros pelos estudos e conclui. “Também já estive desanimada com relação a minha formação na graduação”.
Tal desinteresse pelos estudos acadêmicos é observado desde o ensino fundamental e médio. Segundo o professor de Educação Física Luciano Fantini, há seis anos, na Escola Estadual Professor Teodoro Coelho, no bairro Jóquei Clube, Zona Norte, os adolescentes não demonstram interesse por os estudos. O professor sempre incentiva seus alunos para não abandonarem seus estudos. Ele relatou ainda que, há alunos na escola que estão longe da realidade de ingressarem na faculdade, pois precisam trabalhar para manter suas famílias, não tendo tempo para se dedicarem aos estudos. O professor, também, já ouviu seus alunos comentando que não irão fazer faculdade. Thayrine Lázaro, 17, moradora da cidade de Duque de Caxias, Rio de janeiro, estudante em visita a Juiz de Fora, comentou sobre a atual situação do jovem negro em sua cidade. A estudante mencionou que estes estão desmotivados em ingressar nos cursos superiores, pois há muitos gastos com livros, alimentação, mensalidades elevadas e transportes que, em geral, são gastos com quatro ônibus por dia. Ela disse que os jovens preferem ingressar nos cursos técnicos gratuitos oferecidos pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro. A jovem, de Duque de Caxias, também não ambiciona o curso superior. “O mercado de trabalho está saturado de profissionais com diplomas de graduação”, concluiu Thayrine.
Segundo números revelados pela Unidade do IBGE, na cidade de Juiz de Fora, o Estado de Minas Gerais possui cerca de 1.196.199 pessoas brancas com diplomas de graduação , contrapondo a 35.677 pessoas negras que freqüentaram as salas de aula das faculdades, dados esses de 2000, último censo realizado nesta área. A secretária Fernanda, da Unidade do IBGE, na cidade, informou que o instituto ainda não realizou essa pesquisa no município Juiz de Fora.

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