quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Paulo Emerich - Por Angelo Savastano

Memória - Profissão Comunicador
A trajetória de um vencedor através do mundo da comunicação


Numa entrevista bem humorada, o decano da comunicação, faz um depoimento aos novos jornalistas, repleto de participações ímpares na história do rádio no Brasil. Relata sua presença num dos momentos mais marcantes do país, quando o general Mourão deflagrou a Revolução de 1964 e também recorda o “furo de reportagem” quando noticiou, em primeira mão, a morte do presidente John F. Kennedy, em Dallas, Estados Unidos da América.
O capixaba Paulo Emerich, natural de Celina, distrito de Alegre, nascido em 1931, descobriu por acaso a profissão que abraçou durante grande parte de sua vida. Tudo começou em 1950 quando um amigo, na época das eleições presidenciais, o convidou para trabalhar como locutor no serviço de alto falante, fazendo propaganda política para o Brigadeiro Eduardo Gomes, que disputava a Presidência com Getúlio Vargas naquela época.
Lá foi o começo de tudo. Em sua carreira, fez de tudo, foi de apresentador de auditório, propagandista, a diretor de rádio. Num período de sua vida, exerceu a profissão que havia se formado, farmácia, porém, não por muito tempo, retornando ao rádio, que o levou a ser eleito por três mandatos vereador da Câmara Municipal de Juiz de Fora, onde ocupou o cargo de presidente da Casa. Encerrando essa vitoriosa trajetória, ocupou a chefia de gabinete da Secretaria de Estado de Interior e Justiça/MG nos governos de Tancredo Neves e Hélio Garcia.

Savastano: Como foi o começo de sua carreira?

Emerich: Em 1950, quando eu morava em Alegre (ES), um amigo que achava que eu tinha uma boa voz convidou-me para participar como locutor nos comícios da UDN (União Democrática Nacional), durante a campanha presidencial do candidato Brigadeiro Eduardo Gomes que disputava com Getulio Vargas. Andávamos pelo interior do Espírito Santo fazendo propaganda nos comícios e festas do partido. Já em 1952, fui estudar em Minas Gerais, na cidade de Carangola. Estava sendo inaugurada a rádio ZYQ 9 Rádio Carangola,onde fiz o teste para locutor sendo aprovado. Lá se transmitia de tudo. Naquele mesmo ano, transmiti, direto do campo do Ypiranga Futebol Clube a primeira partida de futebol.

Savastano: Como eram feitas as transmissões de rádio na época?

Emerich: Já no ano de 1953, quando o meu pai mudou-se para Cachoeiro do Itapemirim (ES), sai de Carangola e consegui o emprego de locutor na rádio ZYL 9 Rádio Cachoeiro do Itapemirim. Naquela época, se fazia de tudo, de locução a venda de publicidade. Era um verdadeiro caos fazer transmissões externas, pois, eram tantos fios que eu quase tropeçava neles, mesmo assim, fiz várias locuções de partidas de futebol. O negócio não deu muito certo. Fui para o Rio de Janeiro tentar o vestibular para a faculdade de medicina. Lá o rádio cruzou novamente meu caminho. Não tendo dinheiro para pagar minhas despesas, trabalhei por um período como locutor na Rádio Continental e também na Rádio Relógio que ficava na Avenida Getúlio Vargas.


Savastano: Como Juiz de Fora surgiu em sua vida?

Emerich: Depois da tentativa frustrada de passar no vestibular de medicina no Rio de Janeiro, quando fui reprovado por três décimos em física, o que me causou uma decepção muito grande, voltei para o Espírito Santo retornando a Rádio Cachoeiro, mas com o firme propósito de estudar medicina. Lá, em certa ocasião, conheci o proprietário da Rádio Industrial de Juiz de Fora, Alceu Nunes da Fonseca, que gostou muito do meu timbre de voz e me fez um convite para trabalhar em Minas. No inicio eu relutei, porém, quando Fonseca falou-me que havia faculdade de farmácia em Juiz de Fora, de pronto aceitei, pois, também tentaria o vestibular para a referida faculdade. Numa noite de janeiro de 1954, desembarquei na rodoviária que se localizava, à época, no final da Rua Batista Oliveira e fui procurar os estúdios da Rádio Industrial de Juiz de Fora na Rua São João. Não conhecia ninguém. Fui recebido pelo diretor e funcionários da casa que me indicaram a pensão do Senhor Romano, pois, era barata e tinha comida de qualidade.

Savastano: Como foi o seu início na Rádio Industrial?

Emerich: Seguindo o conselho do pessoal da rádio, fui à pensão e lá me instalei. Retornei à emissora por volta de 20 horas, encontrei-me com o diretor que informou que eu apresentaria o jornal das 22h30 juntamente com outro locutor. Não me foi
passado o texto, mas assim mesmo, aceitei o desafio. E na hora marcada estávamos apresentando o rádio jornal. A minha presença intimidou o colega de trabalho, a ponto dele engasgar por diversos momentos. A partir dali, eu tinha a certeza que seria o âncora do jornal.
Essa data nunca esquecerei: 7 de janeiro de 1954. A minha rotina de trabalho era intensa, entrava pela manhã, apurava as notícias, fazia a parte comercial, apresentava os jornais e o programa de auditório sem hora prevista para encerrar meu expediente, já que, se houvesse algum fato jornalístico interessante, tinha que apurá-lo e fazer uma edição extra do jornal.


Savastano: Cite fatos marcantes da sua carreira de comunicador?

Emerich: Já adaptado na emissora, além do rádio jornal que eu apresentava, também fazia a parte de locução comercial durante a programação. Ressalto que tudo era feito “ao vivo”. Tínhamos orquestra, rádio novelas e programas de auditório de segunda a sábado. Pensando pró-ativamente, levei ao conhecimento da direção, que gostaria de apresentar um programa de auditório aos domingos, tendo em vista que a emissora concorrente, Rádio Sociedade PRB 3, tinha programação também nesse dia. Não obtive êxito junto à diretoria em Juiz de Fora. Não desisti. Fui atrás de patrocinadores, montei toda a produção do programa e fui me avistar com o Senhor Fonseca no Rio de Janeiro onde fiz a defesa do meu intento. Após exaustiva reunião, consegui a autorização para a execução do projeto. Retornando no mesmo dia, na subida da serra de Petrópolis, quando pensava em que nome daria ao programa, passei em frente à churrascaria Rancho Alegre. Eureca! Ai estava o que faltava, a denominação do programa: RANCHO ALEGRE, o programa de variedades que ficou no ar por aproximadamente 3 anos, com sucesso comercial e de público, comprovando que quando temos um objetivo a alcançar, não devemos nunca desistir pelo meio do caminho.
Destaco também a minha presença como repórter ao lado do general Mourão, quando ele deflagrou a Revolução de 1964. Anos duros para a comunicação em geral, tendo em vista que diversos amigos foram presos por conta da ditadura militar. Em outra ocasião, como sempre fazia após o expediente, tinha por hábito ouvir emissoras de outros países, para incrementar meu noticiário, quando fui surpreendido por uma rádio mexicana dando a notícia que o presidente dos Estados Unidos havia sido baleado mortalmente. Tinha “um furo de reportagem” quando noticiei, em primeira mão, a morte do presidente John F. Kennedy, em Dallas.

Savastano: Qual conselho que você daria aos futuros jornalistas?

Emerich: “...Corram atrás...”
Nessas palavras quero deixar claro que sem esforço, dedicação e estudo, hoje, nenhum profissional conseguirá atingir seus objetivos. Na minha época, o jornalista era aquela pessoa que se identificava com a profissão, não tinha faculdade para tal, mas isso não invalidava suas ações. O sindicato dos jornalistas me outorgou a identificação profissional número 14, a qual me honra muito, pois, sou jornalista de ofício e não de formação acadêmica.

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