quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Projeto Rondon - Por Leonardo Pelicarto




O Projeto Rondon, elaborado na década de 60, tinha como principal objetivo levar alunos para bolsões de miséria no país para prestarem ações humanitárias e, naquela época, entendia-se como miséria o estado do Amazonas. O objetivo indireto seria esvaziar os movimentos estudantis. Essa foi a maneira encontrada pelos militares para acalmar as manifestações, pois, o projeto nasceu na Ditadura Militar
Em entrevista, para o blog “A Tocha”, mestre Antônio Carlos da Hora em Comunicação e Cultura, Coordenador do Núcleo de Comunicação (NUCOM) na Faculdade Estácio de Sá Juiz de Fora e Coordenador Geral e Organizador de Seleção e Implantação do Projeto Rondon na FES-JF fala sobre a mudança de parâmetros do movimento, nos quais alunos da instituição participam e prestam assistência nas áreas de saúde, voluntária e humanitária em Minas Gerais especificamente em três regiões: Norte de Minas, Vale do Mucuri e Vale do Jequitinhoa.



A Tocha – Como se encontra o Rondon atualmente?

Hora - Com o fim da Ditadura Militar e o processo de redemocratização do país, o projeto acabou. A partir da entrada do Governo Lula o Rondon começou a ser rediscutido em 2003 sob uma ótica totalmente diferente na qual impera a assistência nas áreas de saúde, social, humanitária e voluntária, focando o estado em que o universitário vive e, conseqüentemente conhecendo a realidade de seu país, sendo assim, implantado no ano de 2005.

Como é a sua organização?

Com a implantação do projeto, passaram a funcionar dois “Rondons” no país: um Rondon nacional organizado pelo Ministério da Defesa e outro estadual, sendo o Rondon do estado de Minas Gerais organizado pela Pontifícia Universidade Católica – Minas na qual quinze instituições participam sendo a Estácio de Sá a única faculdade privada de Juiz de Fora engajada no projeto. A PUC promove duas edições: julho e dezembro. A Estácio de Sá participa das edições de julho atuando no Norte de Minas, Vale do Mucuri e Vale do Jequitinhoa. Na última de edição, fomos para o Vale do Mucuri nas cidades de Novo Oriente de Minas, Catugi e Itaipé.

De que forma funciona o processo seletivo para o Rondon?

Como grande parte do alunado nunca teve contato de perto com as situações que lidamos nessas localidades, a instituição elabora um processo de seleção que dura mais de dois meses no qual fazemos palestras, oficinas, dinâmicas de grupo, atividades de conscientização e sensibilização. Fazemos todo esse processo, pois queremos mostrar tudo o que o aluno vai encontrar e, principalmente, vai ter de lidar. Para ser ter uma idéia, na edição passada começamos, com 164 escritos e terminamos todo o processo com 45 alunos.

Como é a atuação do grupo Rondon em campo?

Uma das primeiras atividades que desenvolvemos é irmos de casa em casa falando quem somos e as ações que vamos desenvolver. Fazemos isso, pois, nos lugares para os quais nós vamos dificilmente acontece algo fora do normal, então, quando chegamos lá viramos o assunto da cidade. E, no Rondon, a equipe tem que ter um senso de coletividade muito grande, pois, as atitudes que tomamos e o que fazemos não é um ou outro quem faz, mas sim o “pessoal do Rondon”. Então, devemos ter o máximo de cuidado em relação às pessoas que lidamos.

O que de mais chocante é encontrado nesses locais abrangidos pelo Rondon?

Bem, tudo o que acontece na realidade dos lugares que prestamos assistência acontece em Juiz de Fora, porém, isso acontece tanto que passa a fazer parte do nosso cotidiano e acaba por anestesiar o nosso olhar. Agora, o que mais choca é a irresponsabilidade das autoridades com a população qual elas têm o dever de atender a todas as suas necessidades. Uma demanda que muito nos espantou é o pai que embebedava a filha sistematicamente, estuprava-a e, após consumado o ato, convidava os irmãos a partilharem o corpo da filha. Quando levamos o ocorrido ao secretário de Assistência Social, ele já estava a parte do que acontecia e possuía a desculpa de que a filha estava acostumada. Então, levamos o caso à polícia. O indivíduo foi preso, porém, foi solto logo em seguida por não ser preso em flagrante. Vira um absurdo maior ainda.

Qual o impacto no aluno que participa do projeto?

No mínimo, um grande choque, pois, muitos não convivem e não conviveram com isso de perto. Para se ter idéia, alguns alunos gastam R$ 80 reais em uma festa, enquanto famílias de cinco e seis pessoas vivem com isso durante um mês inteiro. Sendo assim, ocorre um crescimento individual e social muito grande. Eles vêem com seus próprios olhos que o mundo é bem maior que seu umbigo.

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